Estive
conversando com um amigo meu (Val Bonna), e ele me passou o link desta matéria
que achei muito interessante. Espero que vocês tirem proveito dessa reportagem.
Divina Intervenção
Há uma década, Rodolfo Abrantes trocou o papel de
líder de uma das maiores bandas de rock do Brasil pelo Evangelho. Hoje, decreta
sem olhar para trás: “O vocalista dos Raimundos morreu aos 27 anos”
Leia
abaixo um trecho da matéria publicada na edição 61 da Rolling Stone Brasil,
outubro/2011
No
último mês de maio, em um pequeno palco sob uma tenda em uma rua residencial da
cidade de Araucária, Paraná, Rodolfo Abrantes era o convidado especial do
aniversário da Igreja Bola de Neve local. Enquanto o Raimundos, sua ex-banda,
se apresentavam para cerca de 45 mil pessoas a 30 quilômetros dali, em
Curitiba, Rodolfo se postava diante de aproximadamente 200 pessoas, em uma
estrutura semelhante à de uma festa junina, com lona colorida e espetinhos de
carne à venda para o público. Rodolfo tocou até quando a chuva permitiu –
depois, a água acabou desligando os equipamentos. Antes disso, botou para pular
algumas dezenas de adolescentes sem medo da chuva, com “Minha Maior Riqueza”,
do álbum Santidade ao Senhor (2006), e “Saudade de Casa”, de Enquanto É
Dia (2007).
“O
Rodolfo dos Raimundos morreu aos 27 anos”, decreta ele próprio, quando o
encontro pela terceira vez em um mês, agora em São Paulo, sete dias após a
morte de Amy Winehouse. Relembrando como o vi na outra ocasião, se apresentando
em um palco simples no interior paranaense, aquela sentença faz todo sentido.
Embora as roupas deste até coubessem naquele dos anos 90 – jaqueta preta de
náilon, blusa de flanela xadrez, calça jeans e botas –, ali, sob frio e chuva,
cantando sobre o que Deus fez em sua vida, fica evidente que o Rodolfo do
Raimundos não existe mais. Então, quem é esse homem com físico de atleta,
tatuagem forrando os braços e subindo pelo pescoço, guitarra pendurada quase na
altura dos joelhos, que canta versos como “Só Jesus faz meu dia melhor/ Tu és o
motivo de me sentir cada vez mais vivo/ Te chamo de pai, tu és tudo o que eu
preciso/ Rei eterno e meu Deus vivo”?
Rodolfo
Abrantes é hoje um missionário. Aos 39 anos, é membro da Igreja Bola de Neve em
Balneário Camboriú (SC), onde mora. Cita trechos da Bíblia com a
facilidade de um teólogo veterano. Passa os finais de semana na estrada,
acompanhado por sua banda atual e, na maioria das vezes, pela esposa,
Alexandra, com quem está casado há dez anos. Desde então, tem o rock como um
veículo para falar de Jesus. Durante a semana, pega onda e, sempre que precisa,
realiza voluntariamente os cultos das quartas-feiras na igreja local. Para sua
fase “zen-cristã-surfista”, a cidade do litoral catarinense é o cenário ideal.
Seu sustento vem das vendas de CDs, cachês das apresentações e contribuições
voluntárias das igrejas onde toca.
Encontro Rodolfo pela segunda vez em um sábado, 2
de julho, descarregando os próprios equipamentos em uma entrada lateral da Bola
de Neve, em Curitiba. Ao seu lado, estão o baixista Victor Pradella, de longos
dreadlocks, o baterista Anderson Kuehne “Xexéu” (“meus melhores amigos”, ele
diria mais tarde) e um cinegrafista que registrou três dias na vida do
ex-Raimundos para um programa de TV. Rodolfo e a banda são os convidados do
aniversário de cinco anos do motoclube da igreja, com foco em ação social e na
evangelização de seus pares.
Enquanto
a igreja enche lá fora, Rodolfo relaxa jogando videogame no backstage. Victor,
Xexéu e um amigo de Rodolfo, vindo de Camboriú, se revezam em partidas de Pro
Evolution Soccer. Quando Rodolfo assume o joystick, os amigos se preparam
para rir. Xexéu alerta: “Ele costuma ficar nervoso quando joga”. Com a seleção
brasileira da Copa do Mundo de 2006, o vocalista enfrenta a Argentina. “O
Gilberto Silva é uma velha”, solta, enquanto vê o meio-campo argentino botar na
roda o brasileiro. A Argentina faz 1 a 0 e Victor e Xexéu gargalham. Mesmo com
a derrota, a tensão se vai assim que o jogo acaba – depois do show, Rodolfo
retoma o game e, enfim, vence os rivais. Antes de subirem ao palco, os três se
juntam para uma última oração.
No
show, Rodolfo intercala as músicas com mensagens rápidas à audiência: “Que a
altura da nossa alegria seja proporcional à autenticidade da nossa adoração”.
Ao sentir o clima favorável, após um tempo cantando o verso “Deus, vem derramar
tua vida em mim”, ele olha para Victor e diz, duas vezes: “É agora”. Ali, se
desfaz da guitarra e inicia a pregação, na qual repassa a sua história e aponta
para os céus.
Nascido
em 20 de setembro de 1972, no Distrito Federal, Rodolfo Gonçalves Leite de
Abrantes cresceu em uma cidade cuja identidade ainda estava em formação. Filho
de médicos paraibanos que migraram para a capital do país a fim de concluírem
os estudos, ele estava fora do padrão: não tinha pais políticos ou diplomatas.
O orgulho de ser brasiliense veio com a geração roqueira local, que ele viu
nascer a algumas quadras da sua casa (em frente à do amigo guitarrista Digão),
em um bar chamado Gilbertinho. Dali até o Raimundos, foi um pulo.
“Tudo
o que sabiam de mim era ‘Rodolfo dos Raimundos’. E aquela coisa louca...
parecia que eu era aquilo. Só que eu não era aquilo, eu tinha me tornado
aquilo”, ele diz. “Fiquei muito diferente do que eu estava, não do que eu era.
Porque aquele dos Raimundos não era o que eu era, mas o que eu estava.” Sentado
no confortável sofá do backstage, ele se esforça para se explicar. “Deus foi me
transformando; ele transforma a gente de dentro para fora. Então, hoje sou diferente
do que eu estava, mas não estou diferente do que eu era.” A saída de Rodolfo do
posto de frontman do Raimundos se deu uns cinco meses após sua entrada para a
igreja, em 2001. E a tempestade de críticas deixou-o de guarda armada em um
primeiro momento. “[À época] eu não dava entrevista, eu fazia a minha
defesa. Eu estava num tribunal sendo acusado de ter traído o rock”, ele lembra,
emendando uma pergunta com uma resposta. “Meu, eu não posso fazer o que eu
quiser da minha vida? Não, pelo jeito não."
Você continua lendo esta matéria na edição 61 da
Rolling Stone Brasil, outubro/2011
Espero que
novas conversões de coração aconteça mesmo como foi comigo, com Rodolfo e
varias outras pessoas que conheço, essa mesma que fez diferença na minha vida
faça também NA SUA!
Fiquem firmes...